terça-feira, 18 de setembro de 2018


Barroco

O movimento Barroco abrange o final do século XVI até meados do século XVII. Nessa época, a Europa enfrentava um grande conflito: a Igreja, antes o centro de todo o poder, havia sido questionada pelas reformas protestantes. Esse movimento de Reforma, iniciado na Alemanha por Martinho Lutero, se espalhou por países europeus e ameaçava o poder absoluto do Vaticano.
O Concílio de Trento propôs um reação da Igreja Católica ao avanço do protestantismo. Assim, a autoridade de Roma precisava ser vigorosamente reafirmada, depois de perder muitos fiéis. É criada a Companhia de Jesus, que domina praticamente todo o ensino e é responsável pela divulgação do pensamento católico. A Santa Inquisição é restabelecida como mecanismo de impor pelo medo e pela força as doutrinas católicas. Muitas pessoas, consideradas hereges por discordarem do pensamento religioso dominante, sofreram com perseguição, prisão, tortura e até a morte.
Por fim, a arte também servia de instrumento de divulgação da fé. É nesse contexto que surge o Barroco, movimento artístico intimamente ligado à fé católica. Em nenhuma época se produziu um número tão grande de igrejas e capelas, estátuas de santos, quadros e afrescos retratando cenas bíblicas.

Características do Barroco
  • Teocentrismo x Antropocentrismo – é a expressão de um homem dividido entre duas forças: o divino e o terreno; o corpo e a alma; o pecado e o perdão; céu x inferno; bem x mal.
  • Rebuscamento e riqueza de detalhes – o artista barroco exagera na ornamentação e na profusão de detalhes, produzindo obras que confundem os sentidos. Na literatura, usa-se muitas figuras de linguagem, principalmente a metáfora, a hipérbole, a antítese e o paradoxo.
  • Jogos dos opostos – o artista explora os contrastes, como claro x escuro, corpo x alma, vida x morte.
  • Emocionalismo – as obras buscam comover o expectador, provocando sensações de medo, êxtase, deslumbramento diante da grandeza e complexidade delas.
  • Religiosidade – o Barroco é a expressão da fé católica, por isso as obras refletem muitas cenas bíblicas e temas ligados ao cristianismo.
  • Fusionismo – os gêneros artísticos se misturam num mesmo ambiente. Assim, pintura, escultura e arquitetura compõem uma obra unificada.
  • Incerteza da vida e fugacidade do tempo – retoma a concepção bíblica de que o homem veio do pó e ao pó retornará.
  • Cultismo e Conceptismo – são duas tendências da literatura. O Cultismo explora a forma literária, o jogo de palavras, o rebuscamento da linguagem e a erudição. Já o Conceptismo investe no jog de ideias, na argumentação sutil que visa convencer pelo raciocínio.


Soneto a Nosso Senhor - Gregório de Matos


Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido
Vos tem a perdoar mais empenhado.

Se basta a voz irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história.

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Recobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Exercícios sobre Figuras de Linguagem

4 – Identifique a figura de pensamento que predomina em cada item abaixo, usando as letras iniciais:
A – antítese; H – hipérbole; I – ironia; E – eufemismo; G – gradação: P - prosopopeia
a-( ) “Queria querer gritar setecentas mil vezes...” (Caetano)
b-( ) “O vento beija meus cabelos, as ondas lambem minhas pernas...” (Lulu Santos)
c-( ) “O esforço é grande e o homem é pequeno.” (F. Pessoa)
d-( ) Ele enriqueceu por meios ilícitos.
e- ( ) Fale mais alto, lá da esquina ainda não dá pra ouvir.
f- ( ) Diante daquela cena, meus olhos piscaram mil vezes por minuto.
g- ( ) “O vento assobia, a árvore requebra, o mar balança” (R Silvestrin)
h-( ) Que educada! Entrou sem cumprimentar ninguém.
i-( ) Cláudia não foi feliz nos exames.
j-( ) Mãos frias, coração quente, diz o ditado.
k-( ) A inteligência não é a melhor de suas qualidades.
l-( ) Removeu montanhas para atingir seu objetivo.
m-( ) “O dia vai, a noite vem” (Odair José)
n-( ) Enfim, de volta ao meu país, ao meu estado, à minha cidade, ao meu lar.
o-( ) Acho que eles faltaram com a verdade.
p- ( ) De repente, o problema ficou menor, um grão, um cisco, um quase nada.
q-( ) Um dilema gigantesco me inquietava: açúcar ou adoçante?
r-( ) “Tristeza não tem fim, felicidade, sim.” (Tom Jobim)
s-( ) Estou exausta!… de não fazer absolutamente nada!


5 – As frases abaixo caracterizam-se pelo uso de hipérbatos (inversão da ordem sintática). Reescreva-as na ordem direta.
a) Naquele difícil momento, triste situação enfrentava meu paterno avô.
b) Da injusta sentença reclamava, nos corredores do tribunal, o acusado de roubo.
c) Do que a terra mais garrida, teus risonhos, lindos campos têm mais flores.
d) Cintilava com exuberante beleza na linha do horizonte o Sol.
6 – Identifique as frases em que ocorre pleonasmo (redundância)
a-( ) “...e rir meu riso, e derramar meu pranto.”
b-( ) “… cria a esperança nos olhos meus”
c-( ) “Chove chuva, chove sem parar”
d-( ) “O poeta é um fingidor”
e-( ) “E ali dançaram tanta dança...”
f-( ) Você deve comparecer pessoalmente ao Detran.
g-( ) Mantenha a mesma velocidade.

7 – Utilize os códigos para identificar a figura de linguagem predominante nos textos.
(1) metáfora (2) comparação (metonímia) (4) catacrese (5) perífrase (6) sinestesia
  1. Li José Saramago e gostei muito.
  2. Um odor azedo tomou conta do ambiente.
  3. Você será tratada como uma princesa.
  4. A velhice tem de ser respeitada.
  5. “O amor é um grande laço.” (Djavan)
  6. O bico do bule era preto.
  7. “Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta... (Luís Gonzaga Jr.)
  8. “O amor é como a chama: tem princípio, meio e fim.” (Noel Rosa)
  9. A esperança parece muito com um urubu pintado de verde.
  10. “Ganhava a vida com muito suor.” (Titãs)
  11. Construiu a casa ao pé do morro.
  12. No mês de abril, lembramos o Mártir da Inconfidência.
  13. Seus olhos são cristais ao luar.
  14. O Anjo da Pernas Tortas foi tema de alguns livros.
8 – Escreva entre os parênteses qual figura de sintaxe há na frase (zeugma, anáfora, hipérbato, pleonasmo ou polissíndeto)
  1. Cansado estou eu,
  2. Na rua, apenas crianças brincando.
  3. Vamos arregaçar as mangas, vamos à ruas, vamos lutar.
  4. Falei, e expliquei, e conversei.
  5. A minha palavra não volta atrás.
  6. Ela preferiu ficar em casa; ele, assistir a um filme.
  7. “Me sorri um sorriso pontual.” Chico Buarque
  8. Nem homem, nem mulher, nem bicho, nem planta. O que ele era?
  9. “Quando tive frio, tremi / quando chegou carta, abri / quando criei asas, voei” (Chico César)
  10. Minha cadela teve três filhotes; a do vizinho, doze.
  11. Por estranhos lugares viajava a solitária escritora.
  12. No bolso, apenas uns trocados.
  13. Me doía uma dor profunda, incurável.

Denotação e Conotação

Quando queremos nos expressar verbalmente, seja de maneira oral (fala), seja na forma escrita, recorremos às palavras, expressões e enunciados de uma língua, os quais atuam em dois planos de sentido distintos: o denotativo, que é o sentido literal da palavra,que predomina no dicionário, e o conotativo, que é o sentido figurado da palavra, expressão ou enunciado. Na conotação, as palavras assumem novo significado, modificado de acordo com o contexto e a situação.

Figuras de Linguagem

As Figuras de Linguagem (ou tropos) são formas utilizadas para produzir maior expressividade à comunicação. São recursos linguísticos a que os autores recorrem para tornar a linguagem mais rica e expressiva. Esses recursos revelam a sensibilidade de quem os utiliza, traduzindo particularidades estilísticas do emissor da linguagem e exibindo o pensamento de modo original e criativo.
Classificam-se em figuras de palavras, de pensamento e de construção (ou sintaxe)

Figuras de palavras

A - Metáfora
A metáfora é uma figura de linguagem que trabalha por meio da comparação implícita entre termos, de modo que transforma o sentido denotativo em conotativo. É uma comparação arbitrária e pessoal, sem os termos comparativos como, tal qual etc.
Exemplo: Minha vida é um mar de rosas.
Neste bimestre, o aluno escorregou em Matemática.

B - Metonímia
A metonímia é a figura de linguagem que substitui um termo pelo outro com o qual tem relação de sentido. Da mesma maneira que a metáfora estabelece uma relação de aproximação e contiguidade entre os termos, e podem ocorrer de diversas maneiras:
- parte pelo todo: Pediu a mão da filha, como era de se esperar
- efeito pela causa: Ganhava uns trocados com muito suor.
- autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis
- marca pelo produto: Prega na parede com durex.
- matéria pelo objeto: Ir na academia puxar ferro.
- continente pelo conteúdo: No almoço, comeu três pratos.

C - Comparação
Há comparação de ideias, contudo, diferente da metáfora, é explícita, usando o termo comparativo (como, tal qual, tal como, assim, etc.).
Exemplo: Esperto como uma raposa.
Armando nada tal qual um gracioso golfinho.

D - Catacrese
catacrese é um tipo de metáfora (desgastada). Em virtude de os termos serem utilizados com frequência, deixamos de perceber que eles têm sentido figurado.
Exemplo: A asa da xícara está quebrada. Queimei o céu da boca. Primeiro tire a coroa do abacaxi.

E - Sinestesia
sinestesia é a associação de sensações por órgãos de sentidos diferentes.
Exemplo: Amargo som da sua voz. O doce aroma dos campos floridos.

F - Antonomásia ou Perífrase
Perífrase é a substituição de uma ou mais palavras por outra que a identifique ou que a tornou célebre.
Exemplo: A terra da garoa é a mais populosa do país. O Poeta dos Escravos morreu muito jovem.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Realismo/Naturalismo


O Realismo foi o estilo de época que predominou, na literatura, durante a segunda metade do século XIX, um período rico em acontecimentos.
A Revolução Industrial já se encontrava em seu segundo momento, transformando o sistema capitalista e fazendo surgir uma nova burguesia e uma nova elite, que passaram a ocupar papel de destaque no cenário histórico desse período. Além disso, com a abolição da escravatura, duras condições de trabalho nas fábricas e salários miseráveis eram impingidos ao proletariado, o que gerou grandes movimentos sociais e políticos, tais como o Socialismo, o Comunismo e o Anarquismo.
As descobertas científicas e as novas doutrinas criavam inusitadas referências para toda a sociedade. O mundo conhecia a luz elétrica, o automóvel... uma outra realidade. Desenvolveram-se várias correntes de pensamento no campo da Filosofia, da Ciência, da Economia e da Psicologia. Dentre elas destacamos o Positivismo, o Determinismo, o Evolucionismo, o Marxismo e a Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud.
Positivismo
"O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por meta." Augusto Comte

O Positivismo, corrente de pensamento fundada por Augusto Comte (1789-1857), só admite as verdades positivas, ou seja, as científicas, aquelas que provêm do experimentalismo, da observação e constatação. Para Comte, só cinco ciências eram relevantes: a Astronomia, a Física, a Química, a Fisiologia e a Sociologia, em ordem de importância. Esta última, pela sua complexidade, permitiria reformas sociais.
Comte afirmava que a finalidade do saber científico é a previsão: "saber para poder". No âmbito social e econômico, o filósofo propõe uma organização racional, que se direcione para os interesses coletivos, neutralizando assim os motivos de guerra e discórdia entre as nações. Comte acreditava que se pode alcançar qualquer objetivo, desde que,se saiba também imprimir às situações as causas necessárias à obtenção dos objetivos desejados.
Determinismo
Essa corrente foi desenvolvida por Hipólito Adolfo Taine (1828-1893), que aplicou o método experimental das Ciências Naturais às diversas produções do espírito humano. Taine afirmava que o comportamento humano era condicionado pelas influências da raça, do contexto histórico e do meio ambiente.
Evolucionismo
A teoria da evolução das espécies foi elaborada pelo naturalista inglês Charies Darwin (1809-1862), que retomou a teoria da evolução das espécies de Lamarck (1 744-1829), apoiando-se ainda em experimentos de seleção artificial da cultura de plantas e da criação de animais. Darwin elaborou a teoria da seleção natural, defendendo que a concorrência entre as espécies eliminaria os organismos mais fracos, permitindo à espécie inteira evoluir, graças às heranças genéticas favoráveis dos indivíduos mais fortes e mais aptos. A teoria da evolução abrange também a espécie humana e é apoiada pela Paleontologia, ciência que estuda os fósseis e demonstra a existência de espécies intermediárias entre as fósseis e as vivas. Darwin demonstrou cientificamente que os seres humanos e os macacos têm um antepassado em comum - questionando assim a existência de Deus, fato que criou um escândalo na sociedade da época.
Marxismo
Em 1848, os economistas e filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) publicaram o Primeiro Manifesto Comunista, destinado sobretudo à classe operária, pretendendo despertar a consciência de classes ― pregava-se uma revolução internacional que derrubasse a burguesia, o sistema capitalista, e implantas se o comunismo. A pedra fundamental do marxismo está na idéia de socialização dos meios de produção. Em O Capital, obra de Marx, estão os principais conceitos do marxismo.
Psicanálise
O austríaco Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista, criador da Psicanálise, fez experimentos com a hipnose, utilizou outros recursos como análise de sonhos e a livre-associação de idéias para revelar os problemas que dão origem às chamadas neuroses. Segundo Freud, as neuroses seriam a intervenção de um fato negativo passado que continua interferindo de forma nefasta no presente, sendo grande parte delas causadas por traumas de infância: frustrações ou experiências negativas não-superadas. Ao afirmar a influência do inconsciente sobre as ações humanas e a ligação dos impulsos sexuais com as neuroses, Freud encontrou resistências nos meios científicos da época.
A ARTE REALISTA
Apesar de as tendências românticas sobreviverem nas artes plásticas até o século XX, ocorreram várias manifestações em que se observam a preocupação em retratar tipos e situações cotidianas, próximas da realidade social do período.
ARTES PLÁSTICAS
A pintura realista afasta-se dos temas históricos, religiosos e literários e tem como preocupação essencial retratar o mundo natural que rodeia o artista. Gustave Coubert, um dos principais representantes, sintetizou essa tendência ao afirmar, quando lhe pediram que incluísse anjos numa pintura para uma igreja: "Eu nunca vi anjos. Mostrem-me um anjo e eu pintá-lo-ei".
Assim, são temas da pintura realista a paisagem natural, como espaços cercados por árvores; o cotidiano de pessoas comuns, em especial, camponeses; cenas da vida rural, nas quais está implícita uma crítica à situação de pobreza em que se encontravam os trabalhadores.

LITERATURA

A desilusão com o fracasso dos ideais do liberalismo, as precárias condições do proletariado ― contrapostas aos privilégios da burguesia ― e a efervescência científica e filosófica impulsionaram a substituição do idealismo romântico por uma visão mais objetiva da realidade. Dessa forma, na literatura, o Realismo impõe-se como uma reação ao excesso de subjetividade romântica.
Em 1857, o francês Gustave Flaubert publicou o primeiro romance considerado realista, Madame Bovary; dez anos depois, Émile Zola editou Thérèse Raquin, dando início ao Naturalismo.

Madame Bovary é considerada uma das mais importantes críticas aos valores românticos e burgueses. A protagonista Emma Bovary, leitora assídua de romances românticos, tem por maior sonho viver como uma heroína desses romances. Entretanto, o choque entre o sonho e a realidade provoca a destruição física e moral da personagem.

Na mesma linha de Flaubert, destacam-se o francês Guy de Maupassant, autor de Bel-Amí; os russos Fiodor Dostoievski, autor de Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov, Leon Tolstoi, autor de Ana Karenina; e os dramaturgos Henrik lbsen e Anton Tchecov.
Já Émile Zola, representante máximo do Naturalismo, propunha um método científico para escrever: coletava dados, formulava hipóteses, criava personagens para comprovar a validade dessas hipóteses. Esses princípios estão expostos em O Romance Experimental. Outra obra de destaque de Zola é O Germinal.

O Realismo e o Naturalismo têm princípios comuns, tais como a objetividade, o universalismo, a correção e clareza de linguagem, o materialismo, a contenção emocional, o antropocentrismo, o descritivismo, a lentidão da narrativa, a impessoalidade do narrador. Entretanto, distinguem-se em vários pontos, uma vez que seus objetivos são diferentes. Cabe lembrar que o Naturalismo é uma ramificação cientificista do Realismo. Vamos destacar algumas dessas peculiaridades entre as duas estéticas.
DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO
Os escritores realistas propunham-se a fazer o "romance de revolução", pretendiam reformar a sociedade por meio de literatura crítica. Preferiam trabalhar com um pequeno elenco de personagens e analisá-los psicologicamente. Esperavam com isso que os leitores se identificassem com as personagens e as situações retratadas e, a partir de uma auto- análise, pudessem transformar-se.
Já os naturalistas estavam comprometidos com a ótica cientificista da época, objetivavam desenvolver o "romance de tese", no qual seria possível a demonstração das diversas teorias científicas. Os naturalistas retratam preferencialmente o coletivo, envolvendo as personagens em espaços miseráveis, corrompidos social e/ou moralmente, pois acreditavam que a concentração de muitas pessoas num espaço desfavorável fazia aflorar os desvios psicopatológicos - um alvo de interesse desses escritores. Os naturalistas vêem o mundo com olhos biológicos, reduzem o homem à condição animal, fazendo prevalecer o instinto sobre a razão. Os aspectos desagradáveis e repulsivos da condição humana são valorizados, como uma forma de reação ao idealismo romântico.


O Realismo no Brasil

O Realismo no Brasil tem como marco a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881.
A passagem do Romantismo para o Realismo acompanha um período de muitas mudanças na história econômica, política e social brasileira. O Brasil da década de 80, quando se instala o novo movimento literário, não é mais o mesmo de 1850, época em que a segunda geração romântica dividia seus versos entre o amor e a morte, e as "moreninhas" circulavam pelos salões.
O Realismo vai encontrar terreno adubado para florescer, depois de o país ter passado, ao longo de quarenta anos, por fatos importantes que foram alterando aos poucos sua feição atrasada e tacanha. Como exemplo, a Guerra do Paraguai (1864-1870), o crescimento da campanha abolicionista, o enfraquecimento do governo de D. Pedro II, a intensificação das idéias republicanas, a força da economia agrária, que concentrava a renda nas mãos de fazendeiros de açúcar, primeiro, e de café, depois.
A década de 80 será muito agitada: as campanhas abolicionistas e republicanas andam juntas, em comícios, movimentos e passeatas, na maioria de estudantes e intelectuais. A escravidão e o Império caem quase ao mesmo tempo: em 1888 veio a Abolição; em 1889 Deodoro da Fonseca proclamou a República. Esses dois fatos criaram uma nova realidade, ao eliminar o trabalho servil e introduzir o princípio do voto na eleição dos governos, constituindo um índice de que se iniciava o processo de modernização da economia e política nacionais.
Paralelamente, dinamiza-se a vida social e cultural (principalmente no Rio de Janeiro), como sempre soprada por ventos europeus: liberalismo, socialismo, positivismo, cientificismo, etc. Idéias já consolidadas lá fora e importadas por nós, no mais das vezes sem a necessária adaptação. Numa sociedade agrária, escravocrata e preconceituosa, sem indústrias, sem classe operaria, elas surgiam deslocadas, fora de lugar.
A literatura realista e naturalista brasileira passa a refletir essas idéias, no interior da realidade específica do nosso país, através da pena de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Adolfo Caminha; Olavo Bilac brilha com a poesia parnasiana; Raul Pompéia ensaia sua prosa intimista.
Mudava a literatura porque mudava o país. Aumenta o número de estradas de ferro, incrementa-se o transporte urbano, surge a iluminação elétrica e o cinema. Nas cidades, aumentam a classe comercial, o funcionalismo, os militares e os trabalhadores livres, já em grande parte imigrantes. Nas ruas ainda estreitas e sujas proliferam os salões elegantes, as confeitarias e as lojas que copiavam a moda de Paris.


O Naturalismo


Já sabemos que Realismo e Naturalismo têm, entre si, semelhanças e diferenças. Se o primeiro procura retratar o homem interagindo no seu meio social, o segundo vai mais longe: pretende mostrar o homem como produto de um conjunto de forças "naturais", instintivas, que, em determinado meio, raça e momento, pode gerar comportamentos e situações específicas.
Nas obras de alguns escritores realistas podemos distinguir certas características que definem uma tendência chamada Naturalismo.
O Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência humana. Para os escritores naturalistas, influenciados pelas teorias da ciências experimentais da época, o homem era um simples produto biológico cujo comportamento resultava da pressão do ambiente social e da hereditariedade psicofisiológica. Nesse sentido, dadas certas circunstâncias, o homem teria as mesma reações, instintivas e incontroláveis. Caberia a escritor, portanto, armar em sua obra uma certa situação experimental e agir como um cientista em seu laboratório, descrevendo as reações sem nenhuma interferência de ordem pessoal ou moral.
No romance experimental naturalista, o indivíduo é mero produto da hereditariedade. Ao lado desta, o ambiente em que vive, e sobre o qual também age, determina seu comportamento pessoal. Assim, predomina o elemento fisiológico, natural, instintivo: erotismo, agressividade e violência são os componentes básicos da personalidade humana, que, privada do seu arbítrio, vive à mercê de forças incontroláveis.
Desse modo, o Naturalismo atribui a um destino inescapável, de origem fisiológica, aquilo que, na verdade, é produto do sistema econômico-social: a retificação do homem, ou seja, a sua transformação em coisa (do latim res = coisa).
Para dar vida a toda essa teoria, os autores colocam-se como narradores oniscientes, impassíveis, podendo ver tudo por todos os ângulos. As descrições são precisas e minuciosas, frias e fidelíssimas aos aspectos exteriores. As personagens são vistas de fora para dentro, como casos a estudar: não há aprofundamento psicológico; o que interessa são as ações exteriores, e não os meandros da consciência à maneira de, por exemplo, Machado de Assis.


O Romance Naturalista

O naturalismo foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Sousa e Manuel de Oliveira Paiva. O caso de Raul Pompéia é muito particular, pois em seu romance O Ateneu tanto apresenta características naturalistas como realistas, e mesmo impressionistas.
A narrativa naturalista é marcada pela vigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando-se o coletivo. Interessa notar que a preocupação com o coletivo já está explicitada no próprio título dos principais romances: O Cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. É tradicional a tese de que, em O Cortiço, o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, mas sim o próprio cortiço.
No Brasil, a prosa naturalista foi muito influenciada por Eça de Queirós, basicamente com as obras O crime do Padre Amaro e O primo Basílio. Em 1881 surge o romance considerado o marco inicial do Naturalismo brasileiro: O mulato, de Aluísio de Azevedo.
Pertencem também ao Naturalismo brasileiro, entre outros, O missionário, de Inglês de Souza, e A carne, de Júlio Ribeiro, ambos publicados em 1888. Adolfo Caminha publicou A normalista (1893) e O bom crioulo (1896), considerados boas realizações naturalistas.


Características do Realismo-Naturalismo

Compromisso com a realidade
O Realismo-Naturalismo é contra o tradicionalismo romântico. Trata-se de uma arte engajada: ela tem compromisso com o seu momento presente e com a observação do mundo objetivo e exato.
Presença do cotidiano
Os escritores realistas-naturalistas consideram possível representar artisticamente os problemas concretos de seu tempo, sem preconceito ou convenção. E renovaram a arte ao focalizarem o cotidiano, desprezado pelas correntes estéticas anteriores. Daí que os personagens de romances realistas-naturalistas estejam muito próximos das pessoas comuns, com seus problemas do dia-a-dia, com suas vidas medianas, cujas atitudes devem ter sempre explicações lógicas ou científicas. A linguagem é outra preocupação importante: ela deve se aproximar do texto informativo, ser simples, utilizar-se de imagens denotativas, e as construções sintáticas devem obedecer à ordem direta.
Personagens tipificados
Os personagens de romances realistas-naturalistas são retirados da vida diária e são sempre representativos de uma categoria - seja a um empregado, seja um patrão; seja um proprietário, seja um subalterno; seja um senhor, seja um escravo, e daí por diante. Os personagens típicos permitem estabelecer relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que ele se insere: isto é, embora os personagens sejam seres ficcionais, individuais, passam a representar comportamentos e a ter reações típicas de uma determinada realidade.
Preferência pelo presente
Geralmente os escritores realistas-naturalistas deram preferência ao momento presente: as narrativas estavam ambientadas num tempo contemporâneo ao do escritor. Com isso, a crítica social ficaria mais próxima e mais concreta. Nesse sentido, a literatura ganha um papel de denunciadora do que havia de mau na sociedade. Outro aspecto dessa preferência pelo momento presente é o detalhismo com que é enfocada a realidade, fato explicável pela proximidade.
Preferência pela narração
Ao contrário dos românticos, que privilegiaram a descrição, os realistas-naturalistas deram ênfase à narração do fato: o que acontece e por que acontece são as preocupações desses escritores.
Anticlericais, antimonárquicos, antiburgueses
Os realistas-naturalistas são marcadamente contra a Igreja, que apontam como defensora de ideologias ultrapassadas, como, por exemplo, a monarquia. Também criticam acirradamente a burguesia, que encarna o status romântico em geral.