O
Realismo
foi
o estilo de época que predominou, na literatura, durante a segunda
metade do século XIX, um período rico em acontecimentos.
A
Revolução Industrial já se encontrava em seu segundo momento,
transformando o sistema capitalista e fazendo surgir uma nova
burguesia e uma nova elite, que passaram a ocupar papel de destaque
no cenário histórico desse período. Além disso, com a abolição
da escravatura, duras condições de trabalho nas fábricas e
salários miseráveis eram impingidos ao proletariado, o que gerou
grandes movimentos sociais e políticos, tais como o Socialismo, o
Comunismo e o Anarquismo.
As
descobertas científicas e as novas doutrinas criavam inusitadas
referências para toda a sociedade. O mundo conhecia a luz elétrica,
o automóvel... uma outra realidade. Desenvolveram-se várias
correntes de pensamento no campo da Filosofia, da Ciência, da
Economia e da Psicologia. Dentre elas destacamos o Positivismo, o
Determinismo, o Evolucionismo, o Marxismo e a Psicanálise,
desenvolvida por Sigmund Freud.
Positivismo
"O
amor por princípio, a ordem por base, o progresso por meta."
Augusto
Comte
O
Positivismo, corrente de pensamento fundada por Augusto Comte
(1789-1857), só admite as verdades positivas, ou seja, as
científicas, aquelas que provêm do experimentalismo, da observação
e constatação. Para Comte, só cinco ciências eram relevantes: a
Astronomia, a Física, a Química, a Fisiologia e a Sociologia, em
ordem de importância. Esta última, pela sua complexidade,
permitiria reformas sociais.
Comte
afirmava que a finalidade do saber científico é a previsão: "saber
para poder". No âmbito social e econômico, o filósofo propõe
uma organização racional, que se direcione para os interesses
coletivos, neutralizando assim os motivos de guerra e discórdia
entre as nações. Comte acreditava que se pode alcançar qualquer
objetivo, desde que,se saiba também imprimir às situações as
causas necessárias à obtenção dos objetivos desejados.
Determinismo
Essa
corrente foi desenvolvida por Hipólito Adolfo Taine (1828-1893), que
aplicou o método experimental das Ciências Naturais às diversas
produções do espírito humano. Taine afirmava que o comportamento
humano era condicionado pelas influências da raça, do contexto
histórico e do meio ambiente.
Evolucionismo
A
teoria da evolução das espécies foi elaborada pelo naturalista
inglês Charies Darwin (1809-1862), que retomou a teoria da evolução
das espécies de Lamarck (1 744-1829), apoiando-se ainda em
experimentos de seleção artificial da cultura de plantas e da
criação de animais. Darwin elaborou a teoria da seleção natural,
defendendo que a concorrência entre as espécies eliminaria os
organismos mais fracos, permitindo à espécie inteira evoluir,
graças às heranças genéticas favoráveis dos indivíduos mais
fortes e mais aptos. A teoria da evolução abrange também a espécie
humana e é apoiada pela Paleontologia, ciência que estuda os
fósseis e demonstra a existência de espécies intermediárias entre
as fósseis e as vivas. Darwin demonstrou cientificamente que os
seres humanos e os macacos têm um antepassado em comum -
questionando assim a existência de Deus, fato que criou um escândalo
na sociedade da época.
Marxismo
Em
1848, os economistas e filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895) publicaram o Primeiro
Manifesto Comunista, destinado
sobretudo à classe operária, pretendendo despertar a consciência
de classes ― pregava-se uma revolução internacional que
derrubasse a burguesia, o sistema capitalista, e implantas se o
comunismo. A pedra fundamental do marxismo está na idéia de
socialização dos meios de produção. Em O
Capital, obra
de Marx, estão os principais conceitos do marxismo.
Psicanálise
O
austríaco
Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista, criador da
Psicanálise, fez experimentos com a hipnose, utilizou outros
recursos como análise de sonhos e a livre-associação de idéias
para revelar os problemas que dão origem às chamadas neuroses.
Segundo Freud, as neuroses seriam a intervenção de um fato negativo
passado que continua interferindo de forma nefasta no presente, sendo
grande parte delas causadas por traumas de infância: frustrações
ou experiências negativas não-superadas. Ao afirmar a influência
do inconsciente sobre as ações humanas e a ligação dos impulsos
sexuais com as neuroses, Freud encontrou resistências nos meios
científicos da época.
A
ARTE REALISTA
Apesar
de as tendências românticas sobreviverem nas artes plásticas até
o século XX, ocorreram várias manifestações em que se observam a
preocupação em retratar tipos e situações cotidianas, próximas
da realidade social do período.
ARTES
PLÁSTICAS
A
pintura realista afasta-se dos temas históricos, religiosos e
literários e tem como preocupação essencial retratar o mundo
natural que rodeia o artista. Gustave Coubert, um dos principais
representantes, sintetizou essa tendência ao afirmar, quando lhe
pediram que incluísse anjos numa pintura para uma igreja: "Eu
nunca vi anjos. Mostrem-me um anjo e eu pintá-lo-ei".
Assim,
são temas da pintura realista a paisagem natural, como espaços
cercados por árvores; o cotidiano de pessoas comuns, em especial,
camponeses; cenas da vida rural, nas quais está implícita uma
crítica à situação de pobreza em que se encontravam os
trabalhadores.
LITERATURA
A
desilusão com o fracasso dos ideais do liberalismo, as precárias
condições do proletariado ― contrapostas aos privilégios da
burguesia ― e a efervescência científica e filosófica
impulsionaram a substituição do idealismo romântico por uma visão
mais objetiva da realidade. Dessa forma, na literatura, o Realismo
impõe-se como uma reação ao excesso de subjetividade romântica.
Em
1857, o francês Gustave Flaubert publicou o primeiro romance
considerado realista,
Madame Bovary;
dez anos depois, Émile Zola editou Thérèse
Raquin,
dando início ao Naturalismo.
Madame
Bovary
é considerada uma das mais importantes críticas aos valores
românticos e burgueses. A protagonista Emma Bovary, leitora assídua
de romances românticos, tem por maior sonho viver como uma heroína
desses romances. Entretanto, o choque entre o sonho e a realidade
provoca a destruição física e moral da personagem.
Na
mesma linha de Flaubert, destacam-se o francês Guy de Maupassant,
autor de Bel-Amí;
os
russos Fiodor Dostoievski, autor de Crime
e Castigo e Os Irmãos Karamazov, Leon
Tolstoi, autor de Ana
Karenina; e
os dramaturgos Henrik lbsen e Anton Tchecov.
Já
Émile Zola, representante máximo do Naturalismo, propunha um método
científico para escrever: coletava dados, formulava hipóteses,
criava personagens para comprovar a validade dessas hipóteses. Esses
princípios estão expostos em O
Romance Experimental. Outra
obra de destaque de Zola é O
Germinal.
O
Realismo e o Naturalismo têm princípios comuns, tais como a
objetividade, o universalismo, a correção e clareza de linguagem, o
materialismo, a contenção emocional, o antropocentrismo, o
descritivismo, a lentidão da narrativa, a impessoalidade do
narrador. Entretanto, distinguem-se em vários pontos, uma vez que
seus objetivos são diferentes. Cabe lembrar que o Naturalismo é uma
ramificação cientificista do Realismo. Vamos destacar algumas
dessas peculiaridades entre as duas estéticas.
DIFERENÇAS
ENTRE REALISMO E NATURALISMO
Os
escritores realistas propunham-se a fazer o "romance de
revolução", pretendiam reformar a sociedade por meio de
literatura crítica. Preferiam trabalhar com um pequeno elenco de
personagens e analisá-los psicologicamente. Esperavam com isso que
os leitores se identificassem com as personagens e as situações
retratadas e, a partir de uma auto- análise, pudessem
transformar-se.
Já
os naturalistas estavam comprometidos com a ótica cientificista da
época, objetivavam desenvolver o "romance de tese", no
qual seria possível a demonstração das diversas teorias
científicas. Os naturalistas retratam preferencialmente o coletivo,
envolvendo as personagens em espaços miseráveis, corrompidos social
e/ou moralmente, pois acreditavam que a concentração de muitas
pessoas num espaço desfavorável fazia aflorar os desvios
psicopatológicos - um alvo de interesse desses escritores. Os
naturalistas vêem o mundo com olhos biológicos, reduzem o homem à
condição animal, fazendo prevalecer o instinto sobre a razão. Os
aspectos desagradáveis e repulsivos da condição humana são
valorizados, como uma forma de reação ao idealismo romântico.
O
Realismo no Brasil
O
Realismo no Brasil tem como marco a publicação de Memórias
póstumas de Brás Cubas,
de Machado de Assis,
em 1881.
A
passagem do Romantismo para o Realismo acompanha um período de
muitas mudanças na história econômica, política e social
brasileira. O Brasil da década de 80, quando se instala o novo
movimento literário, não é mais o mesmo de 1850, época em que a
segunda geração romântica dividia seus versos entre o amor e a
morte, e as "moreninhas"
circulavam pelos salões.
O
Realismo vai encontrar terreno adubado para florescer, depois de o
país ter passado, ao longo de quarenta anos, por fatos importantes
que foram alterando aos poucos sua feição atrasada e tacanha. Como
exemplo, a Guerra
do Paraguai
(1864-1870), o crescimento da campanha abolicionista, o
enfraquecimento do governo de D. Pedro II, a intensificação das
idéias republicanas, a força da economia agrária, que concentrava
a renda nas mãos de fazendeiros de açúcar, primeiro, e de café,
depois.
A
década de 80 será muito agitada: as campanhas abolicionistas e
republicanas andam juntas, em comícios, movimentos e passeatas, na
maioria de estudantes e intelectuais. A escravidão
e o Império
caem quase ao mesmo tempo: em 1888 veio a Abolição; em 1889 Deodoro
da Fonseca proclamou a República. Esses dois fatos criaram uma nova
realidade, ao eliminar o trabalho servil e introduzir o princípio do
voto na eleição dos governos, constituindo um índice de que se
iniciava o processo de modernização da economia e política
nacionais.
Paralelamente,
dinamiza-se a vida social e cultural (principalmente no Rio de
Janeiro), como sempre soprada por ventos europeus: liberalismo,
socialismo,
positivismo,
cientificismo,
etc. Idéias já
consolidadas lá
fora e importadas por nós, no mais das vezes sem a necessária
adaptação. Numa sociedade agrária, escravocrata e preconceituosa,
sem indústrias, sem classe operaria, elas surgiam deslocadas, fora
de lugar.
A
literatura realista e naturalista brasileira
passa a refletir
essas idéias, no interior da realidade específica do nosso país,
através da pena de Machado
de Assis,
Aluísio
de Azevedo,
Adolfo
Caminha; Olavo
Bilac brilha
com a poesia parnasiana; Raul
Pompéia ensaia
sua prosa intimista.
Mudava
a literatura porque mudava o país. Aumenta o número de estradas de
ferro, incrementa-se o transporte urbano, surge a iluminação
elétrica e o cinema. Nas cidades, aumentam a classe comercial, o
funcionalismo, os militares e os trabalhadores livres, já em grande
parte imigrantes. Nas ruas ainda estreitas e sujas proliferam os
salões elegantes, as confeitarias e as lojas que copiavam a moda de
Paris.
O
Naturalismo
Já
sabemos que Realismo
e Naturalismo
têm, entre si, semelhanças
e
diferenças. Se
o primeiro procura retratar o homem interagindo no seu meio social, o
segundo vai mais longe: pretende mostrar o homem como produto de um
conjunto de forças "naturais", instintivas, que, em
determinado meio, raça e momento, pode gerar comportamentos e
situações específicas.
Nas
obras de alguns escritores realistas podemos distinguir certas
características que definem uma tendência chamada Naturalismo.
O
Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência humana.
Para os escritores naturalistas, influenciados pelas teorias da
ciências experimentais da época, o homem era um simples produto
biológico cujo comportamento resultava da pressão do ambiente
social e da hereditariedade psicofisiológica. Nesse sentido, dadas
certas circunstâncias, o homem teria as mesma reações, instintivas
e incontroláveis. Caberia a escritor, portanto, armar em sua obra
uma certa situação experimental e agir como um cientista em seu
laboratório, descrevendo as reações sem nenhuma interferência de
ordem pessoal ou moral.
No
romance experimental naturalista,
o indivíduo é mero produto da hereditariedade. Ao lado desta, o
ambiente em que vive, e sobre o qual também age, determina seu
comportamento pessoal. Assim, predomina o elemento fisiológico,
natural, instintivo: erotismo, agressividade e violência são os
componentes básicos da personalidade humana, que, privada do seu
arbítrio, vive à mercê de forças incontroláveis.
Desse
modo, o Naturalismo atribui a um destino inescapável, de origem
fisiológica, aquilo que, na verdade, é produto do sistema
econômico-social: a retificação
do homem, ou seja, a
sua transformação em coisa (do latim res
= coisa).
Para
dar vida a toda essa teoria, os autores colocam-se como narradores
oniscientes, impassíveis, podendo ver tudo por todos os ângulos. As
descrições são precisas e minuciosas, frias e fidelíssimas aos
aspectos exteriores. As personagens são vistas de fora para dentro,
como casos a estudar: não há aprofundamento psicológico; o que
interessa são as ações exteriores, e não os meandros da
consciência à maneira de, por exemplo, Machado
de Assis.
O
Romance Naturalista
O
naturalismo foi cultivado no Brasil por Aluísio
Azevedo, Júlio
Ribeiro, Adolfo
Caminha,
Domingos
Olímpio,
Inglês
de Sousa e
Manuel de Oliveira Paiva.
O caso de Raul
Pompéia é
muito particular, pois em seu romance
O
Ateneu
tanto apresenta características naturalistas como realistas, e mesmo
impressionistas.
A
narrativa naturalista é marcada pela vigorosa análise social a
partir de grupos humanos marginalizados, valorizando-se o coletivo.
Interessa notar que a preocupação com o coletivo já está
explicitada no próprio título dos principais romances: O
Cortiço, Casa de pensão, O Ateneu.
É tradicional a tese de que, em O
Cortiço, o
principal personagem não é João
Romão, nem
Bertoleza,
nem Rita
Baiana, mas sim
o próprio cortiço.
No
Brasil, a prosa naturalista foi muito influenciada por Eça
de Queirós,
basicamente com as obras O
crime do Padre Amaro
e
O primo Basílio.
Em 1881 surge o
romance considerado o marco inicial do Naturalismo brasileiro: O
mulato, de
Aluísio
de Azevedo.
Pertencem
também ao Naturalismo brasileiro, entre outros, O
missionário,
de Inglês
de Souza, e A
carne,
de Júlio
Ribeiro, ambos
publicados em 1888. Adolfo
Caminha
publicou A
normalista
(1893) e O
bom crioulo
(1896), considerados
boas realizações naturalistas.
Características
do Realismo-Naturalismo
Compromisso
com a realidade
O
Realismo-Naturalismo é contra o tradicionalismo romântico. Trata-se
de uma arte engajada: ela tem compromisso com o seu momento presente
e com a observação do mundo objetivo e exato.
Presença
do cotidiano
Os escritores realistas-naturalistas consideram possível
representar artisticamente os problemas concretos de seu tempo, sem
preconceito ou convenção. E renovaram a arte ao focalizarem o
cotidiano, desprezado
pelas correntes estéticas anteriores. Daí que os personagens de
romances realistas-naturalistas estejam muito próximos das pessoas
comuns, com seus problemas do dia-a-dia, com suas vidas medianas,
cujas atitudes devem ter sempre
explicações
lógicas ou científicas. A linguagem é outra preocupação
importante: ela deve se aproximar do texto informativo, ser simples,
utilizar-se de imagens denotativas, e as construções sintáticas
devem obedecer à ordem direta.
Personagens
tipificados
Os
personagens de romances realistas-naturalistas são retirados da vida
diária e são sempre representativos de uma categoria - seja a um
empregado, seja um patrão; seja um proprietário, seja um
subalterno; seja um senhor, seja um escravo, e daí por diante. Os
personagens típicos
permitem estabelecer
relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que
ele se insere: isto é, embora os personagens sejam seres ficcionais,
individuais, passam a representar comportamentos e a ter reações
típicas de uma determinada realidade.
Preferência
pelo presente
Geralmente
os escritores realistas-naturalistas deram preferência ao momento
presente: as narrativas estavam ambientadas num tempo contemporâneo
ao do escritor. Com isso, a crítica social ficaria mais próxima e
mais concreta. Nesse sentido, a literatura ganha um papel de
denunciadora do que havia de mau na sociedade. Outro aspecto dessa
preferência pelo momento presente é o detalhismo com que é
enfocada a realidade, fato explicável pela proximidade.
Preferência
pela narração
Ao
contrário dos românticos, que privilegiaram a descrição, os
realistas-naturalistas deram ênfase à narração do fato: o
que acontece e por
que acontece são as
preocupações desses escritores.
Anticlericais,
antimonárquicos, antiburgueses
Os
realistas-naturalistas são marcadamente contra a Igreja, que apontam
como defensora de ideologias ultrapassadas, como, por exemplo, a
monarquia. Também criticam acirradamente a burguesia, que encarna o
status
romântico
em geral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário