segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Realismo/Naturalismo


O Realismo foi o estilo de época que predominou, na literatura, durante a segunda metade do século XIX, um período rico em acontecimentos.
A Revolução Industrial já se encontrava em seu segundo momento, transformando o sistema capitalista e fazendo surgir uma nova burguesia e uma nova elite, que passaram a ocupar papel de destaque no cenário histórico desse período. Além disso, com a abolição da escravatura, duras condições de trabalho nas fábricas e salários miseráveis eram impingidos ao proletariado, o que gerou grandes movimentos sociais e políticos, tais como o Socialismo, o Comunismo e o Anarquismo.
As descobertas científicas e as novas doutrinas criavam inusitadas referências para toda a sociedade. O mundo conhecia a luz elétrica, o automóvel... uma outra realidade. Desenvolveram-se várias correntes de pensamento no campo da Filosofia, da Ciência, da Economia e da Psicologia. Dentre elas destacamos o Positivismo, o Determinismo, o Evolucionismo, o Marxismo e a Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud.
Positivismo
"O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por meta." Augusto Comte

O Positivismo, corrente de pensamento fundada por Augusto Comte (1789-1857), só admite as verdades positivas, ou seja, as científicas, aquelas que provêm do experimentalismo, da observação e constatação. Para Comte, só cinco ciências eram relevantes: a Astronomia, a Física, a Química, a Fisiologia e a Sociologia, em ordem de importância. Esta última, pela sua complexidade, permitiria reformas sociais.
Comte afirmava que a finalidade do saber científico é a previsão: "saber para poder". No âmbito social e econômico, o filósofo propõe uma organização racional, que se direcione para os interesses coletivos, neutralizando assim os motivos de guerra e discórdia entre as nações. Comte acreditava que se pode alcançar qualquer objetivo, desde que,se saiba também imprimir às situações as causas necessárias à obtenção dos objetivos desejados.
Determinismo
Essa corrente foi desenvolvida por Hipólito Adolfo Taine (1828-1893), que aplicou o método experimental das Ciências Naturais às diversas produções do espírito humano. Taine afirmava que o comportamento humano era condicionado pelas influências da raça, do contexto histórico e do meio ambiente.
Evolucionismo
A teoria da evolução das espécies foi elaborada pelo naturalista inglês Charies Darwin (1809-1862), que retomou a teoria da evolução das espécies de Lamarck (1 744-1829), apoiando-se ainda em experimentos de seleção artificial da cultura de plantas e da criação de animais. Darwin elaborou a teoria da seleção natural, defendendo que a concorrência entre as espécies eliminaria os organismos mais fracos, permitindo à espécie inteira evoluir, graças às heranças genéticas favoráveis dos indivíduos mais fortes e mais aptos. A teoria da evolução abrange também a espécie humana e é apoiada pela Paleontologia, ciência que estuda os fósseis e demonstra a existência de espécies intermediárias entre as fósseis e as vivas. Darwin demonstrou cientificamente que os seres humanos e os macacos têm um antepassado em comum - questionando assim a existência de Deus, fato que criou um escândalo na sociedade da época.
Marxismo
Em 1848, os economistas e filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) publicaram o Primeiro Manifesto Comunista, destinado sobretudo à classe operária, pretendendo despertar a consciência de classes ― pregava-se uma revolução internacional que derrubasse a burguesia, o sistema capitalista, e implantas se o comunismo. A pedra fundamental do marxismo está na idéia de socialização dos meios de produção. Em O Capital, obra de Marx, estão os principais conceitos do marxismo.
Psicanálise
O austríaco Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista, criador da Psicanálise, fez experimentos com a hipnose, utilizou outros recursos como análise de sonhos e a livre-associação de idéias para revelar os problemas que dão origem às chamadas neuroses. Segundo Freud, as neuroses seriam a intervenção de um fato negativo passado que continua interferindo de forma nefasta no presente, sendo grande parte delas causadas por traumas de infância: frustrações ou experiências negativas não-superadas. Ao afirmar a influência do inconsciente sobre as ações humanas e a ligação dos impulsos sexuais com as neuroses, Freud encontrou resistências nos meios científicos da época.
A ARTE REALISTA
Apesar de as tendências românticas sobreviverem nas artes plásticas até o século XX, ocorreram várias manifestações em que se observam a preocupação em retratar tipos e situações cotidianas, próximas da realidade social do período.
ARTES PLÁSTICAS
A pintura realista afasta-se dos temas históricos, religiosos e literários e tem como preocupação essencial retratar o mundo natural que rodeia o artista. Gustave Coubert, um dos principais representantes, sintetizou essa tendência ao afirmar, quando lhe pediram que incluísse anjos numa pintura para uma igreja: "Eu nunca vi anjos. Mostrem-me um anjo e eu pintá-lo-ei".
Assim, são temas da pintura realista a paisagem natural, como espaços cercados por árvores; o cotidiano de pessoas comuns, em especial, camponeses; cenas da vida rural, nas quais está implícita uma crítica à situação de pobreza em que se encontravam os trabalhadores.

LITERATURA

A desilusão com o fracasso dos ideais do liberalismo, as precárias condições do proletariado ― contrapostas aos privilégios da burguesia ― e a efervescência científica e filosófica impulsionaram a substituição do idealismo romântico por uma visão mais objetiva da realidade. Dessa forma, na literatura, o Realismo impõe-se como uma reação ao excesso de subjetividade romântica.
Em 1857, o francês Gustave Flaubert publicou o primeiro romance considerado realista, Madame Bovary; dez anos depois, Émile Zola editou Thérèse Raquin, dando início ao Naturalismo.

Madame Bovary é considerada uma das mais importantes críticas aos valores românticos e burgueses. A protagonista Emma Bovary, leitora assídua de romances românticos, tem por maior sonho viver como uma heroína desses romances. Entretanto, o choque entre o sonho e a realidade provoca a destruição física e moral da personagem.

Na mesma linha de Flaubert, destacam-se o francês Guy de Maupassant, autor de Bel-Amí; os russos Fiodor Dostoievski, autor de Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov, Leon Tolstoi, autor de Ana Karenina; e os dramaturgos Henrik lbsen e Anton Tchecov.
Já Émile Zola, representante máximo do Naturalismo, propunha um método científico para escrever: coletava dados, formulava hipóteses, criava personagens para comprovar a validade dessas hipóteses. Esses princípios estão expostos em O Romance Experimental. Outra obra de destaque de Zola é O Germinal.

O Realismo e o Naturalismo têm princípios comuns, tais como a objetividade, o universalismo, a correção e clareza de linguagem, o materialismo, a contenção emocional, o antropocentrismo, o descritivismo, a lentidão da narrativa, a impessoalidade do narrador. Entretanto, distinguem-se em vários pontos, uma vez que seus objetivos são diferentes. Cabe lembrar que o Naturalismo é uma ramificação cientificista do Realismo. Vamos destacar algumas dessas peculiaridades entre as duas estéticas.
DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO
Os escritores realistas propunham-se a fazer o "romance de revolução", pretendiam reformar a sociedade por meio de literatura crítica. Preferiam trabalhar com um pequeno elenco de personagens e analisá-los psicologicamente. Esperavam com isso que os leitores se identificassem com as personagens e as situações retratadas e, a partir de uma auto- análise, pudessem transformar-se.
Já os naturalistas estavam comprometidos com a ótica cientificista da época, objetivavam desenvolver o "romance de tese", no qual seria possível a demonstração das diversas teorias científicas. Os naturalistas retratam preferencialmente o coletivo, envolvendo as personagens em espaços miseráveis, corrompidos social e/ou moralmente, pois acreditavam que a concentração de muitas pessoas num espaço desfavorável fazia aflorar os desvios psicopatológicos - um alvo de interesse desses escritores. Os naturalistas vêem o mundo com olhos biológicos, reduzem o homem à condição animal, fazendo prevalecer o instinto sobre a razão. Os aspectos desagradáveis e repulsivos da condição humana são valorizados, como uma forma de reação ao idealismo romântico.


O Realismo no Brasil

O Realismo no Brasil tem como marco a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881.
A passagem do Romantismo para o Realismo acompanha um período de muitas mudanças na história econômica, política e social brasileira. O Brasil da década de 80, quando se instala o novo movimento literário, não é mais o mesmo de 1850, época em que a segunda geração romântica dividia seus versos entre o amor e a morte, e as "moreninhas" circulavam pelos salões.
O Realismo vai encontrar terreno adubado para florescer, depois de o país ter passado, ao longo de quarenta anos, por fatos importantes que foram alterando aos poucos sua feição atrasada e tacanha. Como exemplo, a Guerra do Paraguai (1864-1870), o crescimento da campanha abolicionista, o enfraquecimento do governo de D. Pedro II, a intensificação das idéias republicanas, a força da economia agrária, que concentrava a renda nas mãos de fazendeiros de açúcar, primeiro, e de café, depois.
A década de 80 será muito agitada: as campanhas abolicionistas e republicanas andam juntas, em comícios, movimentos e passeatas, na maioria de estudantes e intelectuais. A escravidão e o Império caem quase ao mesmo tempo: em 1888 veio a Abolição; em 1889 Deodoro da Fonseca proclamou a República. Esses dois fatos criaram uma nova realidade, ao eliminar o trabalho servil e introduzir o princípio do voto na eleição dos governos, constituindo um índice de que se iniciava o processo de modernização da economia e política nacionais.
Paralelamente, dinamiza-se a vida social e cultural (principalmente no Rio de Janeiro), como sempre soprada por ventos europeus: liberalismo, socialismo, positivismo, cientificismo, etc. Idéias já consolidadas lá fora e importadas por nós, no mais das vezes sem a necessária adaptação. Numa sociedade agrária, escravocrata e preconceituosa, sem indústrias, sem classe operaria, elas surgiam deslocadas, fora de lugar.
A literatura realista e naturalista brasileira passa a refletir essas idéias, no interior da realidade específica do nosso país, através da pena de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Adolfo Caminha; Olavo Bilac brilha com a poesia parnasiana; Raul Pompéia ensaia sua prosa intimista.
Mudava a literatura porque mudava o país. Aumenta o número de estradas de ferro, incrementa-se o transporte urbano, surge a iluminação elétrica e o cinema. Nas cidades, aumentam a classe comercial, o funcionalismo, os militares e os trabalhadores livres, já em grande parte imigrantes. Nas ruas ainda estreitas e sujas proliferam os salões elegantes, as confeitarias e as lojas que copiavam a moda de Paris.


O Naturalismo


Já sabemos que Realismo e Naturalismo têm, entre si, semelhanças e diferenças. Se o primeiro procura retratar o homem interagindo no seu meio social, o segundo vai mais longe: pretende mostrar o homem como produto de um conjunto de forças "naturais", instintivas, que, em determinado meio, raça e momento, pode gerar comportamentos e situações específicas.
Nas obras de alguns escritores realistas podemos distinguir certas características que definem uma tendência chamada Naturalismo.
O Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência humana. Para os escritores naturalistas, influenciados pelas teorias da ciências experimentais da época, o homem era um simples produto biológico cujo comportamento resultava da pressão do ambiente social e da hereditariedade psicofisiológica. Nesse sentido, dadas certas circunstâncias, o homem teria as mesma reações, instintivas e incontroláveis. Caberia a escritor, portanto, armar em sua obra uma certa situação experimental e agir como um cientista em seu laboratório, descrevendo as reações sem nenhuma interferência de ordem pessoal ou moral.
No romance experimental naturalista, o indivíduo é mero produto da hereditariedade. Ao lado desta, o ambiente em que vive, e sobre o qual também age, determina seu comportamento pessoal. Assim, predomina o elemento fisiológico, natural, instintivo: erotismo, agressividade e violência são os componentes básicos da personalidade humana, que, privada do seu arbítrio, vive à mercê de forças incontroláveis.
Desse modo, o Naturalismo atribui a um destino inescapável, de origem fisiológica, aquilo que, na verdade, é produto do sistema econômico-social: a retificação do homem, ou seja, a sua transformação em coisa (do latim res = coisa).
Para dar vida a toda essa teoria, os autores colocam-se como narradores oniscientes, impassíveis, podendo ver tudo por todos os ângulos. As descrições são precisas e minuciosas, frias e fidelíssimas aos aspectos exteriores. As personagens são vistas de fora para dentro, como casos a estudar: não há aprofundamento psicológico; o que interessa são as ações exteriores, e não os meandros da consciência à maneira de, por exemplo, Machado de Assis.


O Romance Naturalista

O naturalismo foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Sousa e Manuel de Oliveira Paiva. O caso de Raul Pompéia é muito particular, pois em seu romance O Ateneu tanto apresenta características naturalistas como realistas, e mesmo impressionistas.
A narrativa naturalista é marcada pela vigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando-se o coletivo. Interessa notar que a preocupação com o coletivo já está explicitada no próprio título dos principais romances: O Cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. É tradicional a tese de que, em O Cortiço, o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, mas sim o próprio cortiço.
No Brasil, a prosa naturalista foi muito influenciada por Eça de Queirós, basicamente com as obras O crime do Padre Amaro e O primo Basílio. Em 1881 surge o romance considerado o marco inicial do Naturalismo brasileiro: O mulato, de Aluísio de Azevedo.
Pertencem também ao Naturalismo brasileiro, entre outros, O missionário, de Inglês de Souza, e A carne, de Júlio Ribeiro, ambos publicados em 1888. Adolfo Caminha publicou A normalista (1893) e O bom crioulo (1896), considerados boas realizações naturalistas.


Características do Realismo-Naturalismo

Compromisso com a realidade
O Realismo-Naturalismo é contra o tradicionalismo romântico. Trata-se de uma arte engajada: ela tem compromisso com o seu momento presente e com a observação do mundo objetivo e exato.
Presença do cotidiano
Os escritores realistas-naturalistas consideram possível representar artisticamente os problemas concretos de seu tempo, sem preconceito ou convenção. E renovaram a arte ao focalizarem o cotidiano, desprezado pelas correntes estéticas anteriores. Daí que os personagens de romances realistas-naturalistas estejam muito próximos das pessoas comuns, com seus problemas do dia-a-dia, com suas vidas medianas, cujas atitudes devem ter sempre explicações lógicas ou científicas. A linguagem é outra preocupação importante: ela deve se aproximar do texto informativo, ser simples, utilizar-se de imagens denotativas, e as construções sintáticas devem obedecer à ordem direta.
Personagens tipificados
Os personagens de romances realistas-naturalistas são retirados da vida diária e são sempre representativos de uma categoria - seja a um empregado, seja um patrão; seja um proprietário, seja um subalterno; seja um senhor, seja um escravo, e daí por diante. Os personagens típicos permitem estabelecer relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que ele se insere: isto é, embora os personagens sejam seres ficcionais, individuais, passam a representar comportamentos e a ter reações típicas de uma determinada realidade.
Preferência pelo presente
Geralmente os escritores realistas-naturalistas deram preferência ao momento presente: as narrativas estavam ambientadas num tempo contemporâneo ao do escritor. Com isso, a crítica social ficaria mais próxima e mais concreta. Nesse sentido, a literatura ganha um papel de denunciadora do que havia de mau na sociedade. Outro aspecto dessa preferência pelo momento presente é o detalhismo com que é enfocada a realidade, fato explicável pela proximidade.
Preferência pela narração
Ao contrário dos românticos, que privilegiaram a descrição, os realistas-naturalistas deram ênfase à narração do fato: o que acontece e por que acontece são as preocupações desses escritores.
Anticlericais, antimonárquicos, antiburgueses
Os realistas-naturalistas são marcadamente contra a Igreja, que apontam como defensora de ideologias ultrapassadas, como, por exemplo, a monarquia. Também criticam acirradamente a burguesia, que encarna o status romântico em geral.


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